A Semana de Conscientização Étnico-Racial da UNIFEBE recebeu, em 27 de novembro, a conversa “Territórios em Diálogo”, com o professor Marlon Miranda e a pesquisadora Walderes Coctá Priprá de Almeida. Mestra em Arqueologia pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Coctá compartilhou conhecimentos e visões sobre a pauta indígena, além de suas vivências na produção científica e nos espaços universitários.
O foco dos estudos de Coctá está na cultura e na história de seu povo, o Laklãnõ-Xokleng. Em suas falas durante o evento, a professora desconstruiu estereótipos sobre os povos originários e denunciou os massacres e a usurpação de terras ao longo da história. Ela também fez relatos sobre sua cultura e seus estudos arqueológicos.
Os Laklãnõ-Xokleng sobreviveram a diversos massacres e quase foram dizimados no século XIX. Caçados por aqueles que ficaram conhecidos como “bugreiros”, os indígenas perderam vidas e terras. As ações de extermínio eram realizadas pelos governos para permitir a chegada dos imigrantes europeus. Mesmo a chamada “pacificação” do início do século XX foi problemática, e suas questões foram abordadas na conversa.
“Contribuí no que pude, com a minha formação em história e arqueologia. Apresentei um pouco do que é a arqueologia, de como estou atuando na terra indígena, além de alguns fatos históricos importantes. Tenho ainda alguns trabalhos que tenho desenvolvido e que têm trazido muito a questão cultural do povo”, comenta Coctá. Ela é doutoranda em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP), e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFSC.
Hoje, entre as diversas lutas do povo Laklãnõ-Xokleng, está a luta por terras, tema também abordado por Coctá. Conforme o Marco Temporal, vigente desde 2023, os indígenas têm direito apenas às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial na época.
A tese tem sua constitucionalidade contestada, pois a Constituição de 1988 reconhece que os povos indígenas têm direitos originários sobre suas terras, anteriores ao Estado brasileiro.
“Nós temos toda uma ancestralidade que passou por aqui e que morreu para ser guardiã desse território, dessa terra. Cuidamos muito bem da terra, que é muito importante para nós. Nossa relação com ela é totalmente diferente, nossa conexão é outra.”
O professor Marlon Miranda reforça a necessidade da conversa e da disponibilidade do espaço para um evento como esse. “É uma temática cada vez mais urgente, no sentido de informar as pessoas sobre os povos indígenas. Sobre sua história, sua importância para o Brasil, para a história do Brasil.”
“O tema da mesa-redonda foi Territórios em Diálogo. O diálogo é uma proposta de conhecimento, é uma proposta de empatia, é uma proposta de escuta. Então, trabalhando nesse sentido, por esse caminho, o diálogo é uma ferramenta muito eficaz no sentido de desconstruir visões generalizadas, visões estereotipadas e preconceituosas. Foi um evento muito importante, uma presença muito importante pela bagagem: tanto a científica da professora Coctá quanto a experiência de seu povo e seu lugar”, completa.
Assista ao evento completo:
