Um sistema automatizado para uma cadeira de rodas foi o foco de estudos do acadêmico de Engenharia Mecânica, Gregory Faustino Ratayczyk. A proposta, desenvolvida para atender às necessidades de uma moradora do Lar Menino Deus, de Brusque, começou a ganhar forma ainda durante a participação em um projeto de Curricularização da Extensão dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção. Desde lá, o tema inspirou o projeto de conclusão de curso do acadêmico e a integração ao programa estadual Nascer – Geração de Empreendimentos Inovadores.
A beneficiada pelo projeto foi Adriana Travasso, de 27 anos. Ela convive com a impossibilidade de fala, mobilidade e alimentação por conta própria e depende da equipe da instituição onde reside desde a infância.
Apesar dos esforços dos profissionais especializados, a rotina da moradora era de desconforto devido às suas limitações. Conforme o acadêmico, apesar de ser desafiador, o projeto permitiu aplicar os conhecimentos teóricos e práticos da Engenharia Mecânica em uma ação de impacto social.
“Ela utilizava uma cadeira de rodas do tipo leito, sem regulagem prática de inclinação. Sempre que era necessário mudar de posição, transferi-la para uma maca ou posicionar almofadas para melhorar sua postura e ergonomia, exigia grande esforço dos cuidadores e comprometia o conforto da paciente”, relembra o acadêmico.
Qualidade de vida
Segundo Gregory, a necessidade e a possibilidade de transformar a cadeira de rodas já utilizada pela moradora em um equipamento moderno e funcional foram motivadores para o projeto. O equipamento conta com um atuador linear elétrico, capaz de automatizar o movimento do encosto.
De acordo com o acadêmico, os desafios envolveram desde a definição dos componentes até o mecanismo de fixação do atuador na cadeira. Além disso, foi necessário projetar e fabricar os suportes metálicos utilizados para garantir segurança e a estabilidade do sistema. Gregory afirma que a atualização e a automatização do equipamento permitiram posicionar a moradora com mais segurança e conforto, além de possibilitar uma visualização mais completa do ambiente. Ele projeta que os resultados do projeto também trouxeram reflexos na atividade das equipes internas, que tiveram sua rotina facilitada com a redução da necessidade de movimentações manuais.
“Embora já tivesse experiência no desenvolvimento de projetos elétricos e mecânicos dentro da indústria, essa foi a primeira vez que me envolvi em uma iniciativa diretamente voltada à tecnologia assistiva”, relata. “O impacto da adaptação para Adriana foi bastante significativo. Em razão de seu quadro de tetraplegia, sua comunicação é restrita a olhares, sorrisos e choro, o que torna essencial proporcionar-lhe condições adequadas de conforto e bem-estar”, ressume.
Da Curricularização da Extensão ao empreendedorismo
O desenvolvimento do projeto no Programa Nascer é indicado por ele como um passo importante no desenvolvimento do projeto. Para o acadêmico, trata-se de um momento de amadurecimento, considerando-se os critérios como o potencial comercial da solução adaptativa e de baixo custo, em comparação com as demais disponíveis.
Para o coordenador dos cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia de Produção, professor Wallace Nobrega Lopo, é gratificante ver o projeto ser aprimorado e estimular o empreendedorismo entre os acadêmicos dos cursos. Segundo ele, o trabalho representa uma mudança na forma como são planejadas as atividades de Curricularização da Extensão.
Ele ressalta a possibilidade de os acadêmicos aplicarem os conhecimentos adquiridos nos cursos em benefício da comunidade local. “Foi especial para nós conseguirmos fazer aquilo que a Curricularização pede, levar para a sociedade o que fazemos aqui na instituição”, descreve. “Foi extremamente importante, porque até então, não tínhamos uma abordagem. Hoje, levamos a nossa expertise para a comunidade”.
O desenvolvimento do projeto resultou no que o professor e seu orientador do projeto, Julio Cesar Frantz, classifica como o ciclo completo de um projeto. Contente com o desenvolvimento da iniciativa, ele destaca a possibilidade de acompanhar a aplicação do conhecimento científico, desenvolvido pelos acadêmicos em uma iniciativa capaz de integrar um programa de pré-incubação.
“É extremamente gratificante testemunhar o conhecimento da universidade gerando projetos que resolvem demandas sociais reais. Mas é ainda mais empolgante ver que este TCC se tornar uma empresa, completando um ciclo de formação e inovação que beneficia a comunidade, o aluno e a própria sociedade”, descreve o professor.
