O sentimento de justiça é o que move Bruno Bonamente, brusquense, de 35 anos, egresso do curso de Direito do Centro Universitário de Brusque (UNIFEBE) e promotor titular do “Caso Bernardo Boldrini”.
Formado na Instituição em 2007, Bonamente orgulha-se de ter realizado sua formação na Instituição e acredita que a determinação é a chave para o sucesso. Ele é filho de Vilma Sueli Angioletti e de Cláudio Roberto Bonamente – que inclusive já lecionou na UNIFEBE. Sua irmã, Fernanda Bonamente, também é egressa de Ciências Contábeis.
A UNIFEBE, em nome dos professores do curso de Direito, ressalta a satisfação em ter um egresso que “voou tão longe” e que tem colaborado significativamente com o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. A Instituição sente-feliz por ter contribuído na formação dos seus valores profissionais e pessoais.
Confira na entrevista um breve sobre a trajetória profissional de Bonamente e sua atuação no Caso Bernardo:
Período em que estudou na UNIFEBE:
De 2002 a 2007.
Atuação profissional:
Comecei no Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da UNIFEBE. Enquanto aluno, estagiei no Fórum e na Promotoria de Justiça do município. Após formado, trabalhei como assessor de Promotoria de Justiça em Brusque, assessor de Procurador em Florianópolis (SC), além de técnico judiciário e chefe de cartório também em Brusque. Após isso, passei no concurso para a Comarca de Três Passos (RS).
Como tornou-se o promotor de Justiça no Caso Bernardo?
Passei no concurso e fui lotado na Comarca de Três Passos, onde estou há 4 anos e meio, e o caso já tramitava na cidade. A morte do Bernardo aconteceu em abril de 2014. Quando cheguei, uma colega atuava nele, e com a promoção dela, que foi para Santiago (RS), fui designado a tocar o caso.
Como foi trabalhar neste caso e sua relevância social?
Esse processo exigiu tanto de mim, como dos colegas – exigiu muito em todos os aspectos. Foi uma necessidade de aprendizado e engrandecimento no curso do processo, tanto no trato com a população, que sentiu muito essa perda, como no trato com a imprensa. Por eu ser um promotor de Justiça novo, não éramos acostumados a lidar com a imprensa todos os dias, mas entendemos a necessidade de passar as informações para a comunidade.
Este foi um caso que promoveu engrandecimento técnico e jurídico, e demandou uma profunda análise das provas, de todos os aspectos, não só do Direito Penal, mas do Direito da Família, de questões constitucionais. Tudo teve que ser muito bem estudado e alinhavado para que fizéssemos um bom trabalho em plenário.
Muitos colegas com 20/ 30 anos de experiência não passaram por um processo que fosse metade disso do que eu nos primeiros anos de carreira já enfrentei. Não é um caso que se vê todos os dias.
Que sentimentos o Caso Bernardo lhe despertou?
Não senti algo diferente do que sinto dos outros processos, porque todos os processos que passam na minha mão, principalmente estes que envolvem o júri, eu tenho um sentimento de muito respeito, primeiro pela vítima, e depois pela tentativa de fazer justiça.
Quando percebemos a dimensão social deste processo, outros sentimentos começaram a florar. A repercussão social se deve muito à brutalidade que o crime foi feito, porque quando você tem um pai, uma madrasta e amigos destas pessoas envolvidas, todos ao invés de proteger uma criança, ceifaram a vida dela, e isso causa uma repugnância muito grande, por isso houve essa comoção social. Não se espera isso nunca, de um médico e de uma enfermeira, pessoas que se comprometeram a preservar a vida e não a tirá-la.
Qual a importância de estar à frente deste caso e o desfecho com a condenação?
O sentimento que impera em mim agora é de dever cumprido. O que mais tinha em mente era fazer uma instrução em plenário e apresentar as provas para os jurados de uma maneira ética, muito respeitosa e pautada numa postura que efetivamente demonstrasse os valores do Ministério Público (MP). Eu tinha um compromisso muito grande por isso, até porque sabia que esse júri seria visto no Brasil todo. Essa era uma oportunidade de mostrar, mais uma vez, para a sociedade, a importância que o MP tem e reafirmar nossos valores mais básicos, neste caso: a vida, além de trazer justiça para o Bernardo, é claro.
Que importância a UNIFEBE teve em sua formação acadêmica e na sua vida?
Quero dizer que eu sou um egresso da UNIFEBE com muito orgulho. Quando sai da Instituição recentemente tinha sido inaugurado o novo campus, cheguei a ter algumas aulas no Anfiteatro. Eu era aluno do Centro Acadêmico e participei desta construção.
Vimos a UNIFEBE evoluir e cresci durante o curso, porque os professores se esmeravam muito e acredito que hoje ainda seja assim. Essa formação é algo que vou levar para a vida inteira, de professores que estavam comprometidos não só com a matéria em si, mas em passar valores humanos.
Foram muitos os professores, mas em nome do Dr. Eroni José Salles (já falecido) que foi promotor de Justiça em Brusque, homenageio a todos os professores que se interessavam em não apenas nos passar os conteúdos jurídicos, mas também de caráter, de formação pessoal, e foi este tipo de formação que eu recebi na UNIFEBE que também refletiu na minha atuação no júri do Caso Bernardo.
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Nunca imaginei que pudesse ser fonte de inspiração para alguém, mas digo para que cada um acredite em si e coloque toda a força de vontade em cima dos seus sonhos. Não existem limites quando nos predispomos a fazer algo e colocamos toda a nossa determinação.
O caso
O pai, a madrasta e outros dois réus foram condenados pela morte do menino Bernardo em Três Passos, noroeste do Rio Grande do Sul, na sexta-feira, 15 de março. O julgamento durou cinco dias e cerca de 50 horas.
O Tribunal do Júri considerou Leandro Boldrini, Graciele Ugulini e Edelvânia e Evandro Wirganovicz culpados. O menino foi morto em 2014 devido à superdosagem de medicação e teve o corpo enterrado em uma cova no interior de Frederico Westphalen (RS).
Graciele, madrasta de Bernardo, teve a pena mais alta: 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicialmente fechado, por homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver. Ela não poderá recorrer em liberdade.
Leandro Boldrini, pai da criança, recebeu 33 anos e oito meses de prisão por homicídio doloso quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.
Edelvânia Wirganovicz, amiga de Graciele, foi condenada a 22 anos e 10 meses por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, pegou nove anos e seis meses em regime semiaberto por homicídio simples e ocultação de cadáver.